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Ações de Mineradoras e Siderúrgicas: por que caíram tanto?

Nos últimos anos, as ações de mineradoras e siderúrgicas passaram por uma significativa desvalorização, impactando investidores e alterando a dinâmica do mercado financeiro. Este texto explora as razões por trás dessa queda, analisando desde os ciclos de mercado até a influência da economia chinesa.

1. Principais Empresas Mineradoras e Siderúrgicas Cotadas na Bolsa de Valores do Brasil

No Brasil, o setor de mineração e siderurgia é dominado por gigantes que influenciam não apenas o mercado local, mas também o global. Entre as principais empresas cotadas na bolsa de valores brasileira, destacam-se:

Vale S.A. (VALE3): A Vale é uma das maiores mineradoras do mundo e a principal produtora de minério de ferro. Além disso, a empresa tem uma presença significativa na produção de níquel, cobre e outros metais. A Vale é considerada um dos pilares do mercado de mineração brasileiro e global.

Gerdau S.A. (GGBR4): A Gerdau é uma das maiores siderúrgicas do Brasil, com operações diversificadas que incluem a produção de aço e seus derivados. A empresa possui uma forte presença na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia.

CSN (CSNA3): A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é outra gigante do setor, com uma atuação integrada que vai desde a mineração até a produção de aço. A CSN é conhecida por sua alta capacidade de produção e pela diversificação de suas operações.

Usiminas (USIM5): A Usiminas é uma das principais produtoras de aços planos no Brasil e na América Latina. Sua produção é voltada principalmente para os setores de construção civil, automotivo e industrial.

Essas empresas têm um papel crucial na economia brasileira, sendo diretamente afetadas pelos ciclos de mercado e pela demanda global por minério de ferro e aço. Nos últimos anos, suas ações sofreram uma forte desvalorização, refletindo os desafios enfrentados pelo setor.

2. Quem São os Maiores Compradores de Minério e Aço do Brasil

O mercado de commodities metálicas é altamente dependente da demanda internacional, e o Brasil é um dos principais fornecedores globais de minério de ferro e aço. Entre os maiores compradores desses produtos, destacam-se:

China: A China é, de longe, o maior importador de minério de ferro brasileiro. O país é o maior produtor mundial de aço, e o minério de ferro é a principal matéria-prima utilizada na siderurgia chinesa. Qualquer alteração na demanda chinesa, seja por questões econômicas ou políticas, tem um impacto direto no mercado brasileiro.

Estados Unidos: Apesar de a demanda norte-americana ser menor do que a chinesa, os Estados Unidos são um importante comprador de aço brasileiro, especialmente para os setores de construção civil e automotivo. O comércio entre Brasil e EUA é influenciado por políticas comerciais e pela dinâmica econômica de ambos os países.

Europa: A União Europeia também é um mercado relevante para o aço brasileiro, com destaque para países como Alemanha e Itália. A demanda europeia é impulsionada por setores como a construção, automobilístico e industrial.

Japão e Coreia do Sul: Esses países asiáticos, embora menores em termos de demanda, ainda são consumidores significativos de minério de ferro e aço brasileiros. Sua demanda é especialmente relevante para a produção de bens de consumo duráveis e eletrônicos.

Esses países são fundamentais para a sustentação do mercado de commodities brasileiro, e qualquer flutuação em suas economias ou políticas pode ter repercussões significativas para as empresas mineradoras e siderúrgicas no Brasil.

3. Ciclos de Mercado que Afetam o Valor das Commodities

As commodities, como minério de ferro e aço, estão sujeitas a ciclos de mercado que influenciam diretamente o valor das ações de empresas mineradoras e siderúrgicas. Esses ciclos são caracterizados por períodos de alta e baixa, influenciados por uma série de fatores econômicos e geopolíticos.

Ciclo de Alta:

Durante um ciclo de alta, a demanda por commodities aumenta, impulsionando os preços. Isso pode ocorrer devido a uma expansão econômica global, grandes investimentos em infraestrutura ou crescimento industrial acelerado, especialmente em países como a China. Nessas condições, as empresas mineradoras e siderúrgicas experimentam um aumento nos lucros, o que se reflete na valorização de suas ações.

Ciclo de Baixa:

Em contrapartida, um ciclo de baixa ocorre quando a demanda por commodities diminui. Isso pode ser resultado de uma desaceleração econômica, excesso de oferta no mercado ou crises específicas em setores que consomem grandes quantidades de minério e aço. Durante esses períodos, os preços das commodities caem, impactando negativamente os lucros das empresas e, consequentemente, o valor de suas ações.

Impacto das Políticas Econômicas:

Além dos fatores de mercado, as políticas econômicas de países importadores e exportadores também afetam os ciclos de commodities. Por exemplo, tarifas de importação, subsídios à produção local e políticas ambientais podem influenciar a oferta e a demanda, alterando os preços e os lucros das empresas.

O Caso da China:

A China, como maior consumidora de minério de ferro, tem um papel central nesses ciclos. Quando o país adota políticas de estímulo à construção civil e à infraestrutura, a demanda por minério de ferro e aço tende a subir, impulsionando os preços. Por outro lado, medidas para conter a especulação imobiliária ou reduzir a poluição podem levar a uma queda na demanda, iniciando um ciclo de baixa.

Esses ciclos são uma parte inevitável do mercado de commodities, e entender sua dinâmica é essencial para quem deseja investir nesse setor. A habilidade de prever e reagir a esses ciclos pode determinar o sucesso ou fracasso de um investimento em ações de mineradoras e siderúrgicas.

4. Baixa Demanda de Minério de Ferro e Aço: A Influência da Economia Chinesa

Nos últimos anos, a economia chinesa tem enfrentado uma série de desafios que impactaram diretamente a demanda por minério de ferro e aço, resultando em uma queda acentuada nos preços dessas commodities.

Crise no Mercado Imobiliário Chinês:

A bolha imobiliária na China é um dos principais fatores por trás da queda na demanda por aço e minério de ferro. O setor imobiliário chinês, que anteriormente foi um dos maiores consumidores de aço, começou a desacelerar devido ao excesso de oferta e ao endividamento excessivo das incorporadoras. Com menos novos projetos de construção, a demanda por aço diminuiu, afetando diretamente as siderúrgicas e mineradoras.

Excesso de Aço Chinês no Mercado Global:

Outro fator significativo foi o excesso de capacidade de produção de aço na China. Para enfrentar a desaceleração interna, as siderúrgicas chinesas começaram a exportar grandes volumes de aço a preços reduzidos, saturando o mercado global. Isso pressionou ainda mais os preços internacionais do aço, impactando as empresas brasileiras que competem nesse mercado.

Política Ambiental Chinesa:

A China também implementou políticas ambientais mais rígidas nos últimos anos, visando reduzir a poluição causada por suas indústrias pesadas, incluindo siderúrgicas. Essas políticas resultaram na redução da produção de aço em algumas regiões, diminuindo a demanda por minério de ferro.

Crescimento Econômico Lento:

Além dos problemas específicos do setor, a economia chinesa como um todo tem crescido em um ritmo mais lento do que nas décadas anteriores. Esse crescimento mais modesto afeta todos os setores, reduzindo a demanda por commodities e contribuindo para a queda nos preços.

Impacto no Brasil: Como principal fornecedor de minério de ferro para a China, o Brasil sentiu o impacto dessas mudanças. A queda na demanda chinesa resultou em uma redução nas exportações brasileiras de minério de ferro, pressionando os lucros das empresas mineradoras e resultando na queda de suas ações.

Esses fatores mostram como a economia chinesa, sendo o maior consumidor de minério de ferro e aço do mundo, tem uma influência desproporcional no mercado global de commodities. Para investidores em ações de mineradoras e siderúrgicas, monitorar a economia chinesa é essencial para prever os movimentos do mercado e ajustar suas estratégias de investimento.

5. Estratégias de Investimento em Empresas de Commodities

Investir em empresas de commodities, como mineradoras e siderúrgicas, requer uma compreensão dos ciclos de mercado e das forças globais que influenciam a oferta e a demanda. Estratégias eficazes podem ajudar os investidores a maximizar seus retornos e minimizar riscos.

Acompanhamento dos Ciclos de Mercado:

Como discutido anteriormente, as commodities são altamente cíclicas. Investidores devem acompanhar de perto os ciclos de alta e baixa, ajustando suas posições conforme necessário.

Compra em Períodos de Baixa:

Investir em ações durante períodos de baixa pode ser uma estratégia lucrativa, especialmente em setores cíclicos como o de commodities. Embora o valor das ações possa cair significativamente durante uma baixa, esses períodos também oferecem oportunidades para comprar ações a preços reduzidos. Com a recuperação do mercado, essas ações tendem a valorizar, proporcionando retornos substanciais.

Exemplo da Vale (VALE3):

A Vale é um excelente exemplo de como essa estratégia pode funcionar. Entre os anos de 2011 a 2015, durante um ciclo de baixa no mercado de minério de ferro, as ações da Vale chegaram a cair mais de 80% em relação ao seu valor máximo. No entanto, aqueles que compraram ações durante essa baixa e mantiveram suas posições viram um retorno significativo nos anos seguintes, à medida que o preço do minério de ferro se recuperou. Entre 2016 e 2021, as ações da Vale se valorizaram em mais de 800%, demonstrando o potencial de retorno em ciclos de alta.

Diversificação de Portfólio:

Diversificar o portfólio é uma estratégia crucial para reduzir riscos. Embora investir em ações de mineradoras e siderúrgicas possa ser lucrativo, é importante não concentrar todos os investimentos em um único setor. Diversificar em outras classes de ativos, como CDBs e fundos imobiliários, pode proporcionar estabilidade e reduzir a volatilidade geral do portfólio.

Acompanhamento de Indicadores Macroeconômicos:

Além de monitorar as empresas individualmente, os investidores devem acompanhar indicadores macroeconômicos que afetam o mercado de commodities, como o crescimento do PIB global, políticas comerciais e taxas de câmbio. Esses fatores podem fornecer sinais antecipados sobre a direção do mercado e ajudar os investidores a tomar decisões informadas.

Investir em empresas de commodities pode ser desafiador, mas com a estratégia certa, é possível aproveitar os ciclos de mercado para obter retornos substanciais.

6. Indicadores econômicos das Mineradoras e Siderúrgicas

Ao analisar as mineradoras e siderúrgicas, é importante considerar uma série de indicadores financeiros que podem fornecer uma visão clara sobre a saúde e a performance das empresas. Entre os principais indicadores estão o lucro, a dívida líquida, o EBITDA, o preço sobre valor patrimonial (P/VP), o preço sobre lucro (P/L) e o retorno sobre capital investido – ROIC. Os dados apresentados a seguir foram obtidos junto aos RI, apresentados pelas empresas, bem como informações contidas no site Investidor10 e Infomoney.

Vale S.A. (VALE3):

A Vale apresenta sólidos indicadores financeiros. O lucro da empresa tem sido consistente, mesmo em períodos de baixa no mercado de minério de ferro. A dívida líquida da Vale é gerenciável, e o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é robusto, refletindo a capacidade da empresa de gerar caixa.

Atualmente, o P/VP da Vale é de 1.33, menor valor desde 2018. O P/L atual da Vale3 é de aproximadamente 5.50, valor este que também é competitivo, uma vez que os investidores estão pagando apenas 5.50 vezes os lucros da empresa. O retorno sobre capital investido – ROIC atual é de 22.11%, valor este acima da média dos últimos 10 anos da empresa. O Dividend Yield da Vale3, considerando os proventos distribuídos nos últimos 12 meses, é de aproximadamente 8,12%.

Os indicadores econômicos da Vale se mostram interessantes, principalmente quando comparados com o histórico da própria empresa nos últimos 10 anos. A Vale pode ser uma opção interessante para investidores que buscam exposição ao setor de mineração, devendo estes estudarem a empresa e verificarem se essa faz sentido na sua estratégia de investimento de longo prazo.

CSN Siderurgica (CSNA3):

A CSN tem mostrado um forte desempenho financeiro, com bons resultados em termos de lucro e geração de caixa. Por outro lado, a empresa tem visto a sua dívida líquida e alavancagem crescer consideravelmente nos últimos 4 anos, com Dívida líquida/EBITA saindo de 0.58 em 2021 para 3.67 em 2024.

Segundo os resultados do 2T24, apresentados pela empresa, a dívida líquida da empresa atingiu 37 bilhões de reais, com alavancagem na ordem de 3.36x, valor este que supera o projetado (guidance) pela própria empresa, que é de 2.50x. O ponto positivo é que a empresa possuí 16.57 bilhões de reais em caixa, valor este suficiente para arcar com os compromissos financeiros projetados para os anos de 2024, 2025 e 2026.

A CSNA3 apresenta os seguintes indicadores: P/VP: 1.16; P/L: 68,01, valor este muito elevado, reflexo da redução do lucro líquido nos últimos 2 anos. Possui ROIC de 5,14%. Dividend Yield da CSNA3, considerando os proventos distribuídos nos últimos 12 meses, é de aproximadamente 11,87%.

Gerdau (GGBR4):

A Gerdau é uma das siderúrgicas mais bem posicionadas no mercado, com um EBITDA sólido e uma boa gestão da dívida. Apresenta um P/VP atraente de 0,58. Dentre as principais siderúrgicas é a que apresenta os menores valores de P/L e de ROIC, sendo estes, respectivamente, de 7,61 e 10,05%. A Gerdau apresenta-se como ativo a ser estudado por investidores que buscam exposição ao setor siderúrgico. O Dividend Yield da GGBR4, considerando os proventos distribuídos nos últimos 12 meses, é de aproximadamente 5,31%.

Usiminas (USIM5):

O EBITDA da Usiminas é positivo, embora inferior ao de outras empresas do setor. O P/VP da Usiminas é de 0,34, o menor dentre as siderúrgicas. O P/L da empresa é de 15,09, o qual apresentou um significativo aumento nos útimos 3 anos, devido à redução do lucro apresentado pela empresa. Possui ROIC de -2.21%. O Dividend Yield da USIM5, considerando os proventos distribuídos nos últimos 12 meses, é de aproximadamente 4,38%.

Ao avaliar essas empresas, é crucial considerar não apenas os indicadores financeiros, mas também o contexto macroeconômico e os ciclos de mercado. As mineradoras com melhores indicadores tendem a ser aquelas que conseguem manter uma gestão financeira sólida, mesmo em períodos de volatilidade no mercado de commodities.

Conclusão: Oportunidades de Investimento em um Mercado Volátil

O mercado de ações de mineradoras e siderúrgicas é marcado por sua volatilidade, mas essa mesma característica também oferece oportunidades únicas de investimento. Entender os ciclos de mercado, monitorar a economia global e analisar cuidadosamente os indicadores financeiros das empresas são passos essenciais para tomar decisões informadas e potencialmente lucrativas.

A chave para o sucesso nesse setor é a paciência e a capacidade de identificar momentos de baixa como oportunidades de compra. A experiência da Vale demonstra como investir em períodos de baixa pode resultar em retornos substanciais no longo prazo. Além disso, a diversificação do portfólio e o acompanhamento de tendências macroeconômicas são estratégias cruciais para navegar em um mercado tão dinâmico.

Investidores que adotam uma abordagem estratégica e informada têm o potencial de capitalizar as oscilações do mercado de commodities, transformando a volatilidade em oportunidades de crescimento e lucratividade.

 

*Disclaimer: este artigo é a título informativo, não sendo, portanto, uma recomendação de compra/venda.

1 comentário em “Ações de Mineradoras e Siderúrgicas: por que caíram tanto?”

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