O setor de educação no Brasil, que já foi considerado um dos mais promissores da Bolsa de Valores, tem enfrentado grandes desafios nos últimos anos. Várias empresas do setor, que incluem algumas das maiores companhias educacionais do país, registraram quedas expressivas em suas ações, gerando preocupações entre investidores e analistas.
Cenário econômico e setorial: O que está afetando as ações?
Diversos fatores econômicos e setoriais contribuíram para as quedas acentuadas no preço das ações dessas companhias.
Principais fatores que influenciaram o setor:
- Concorrência aumentada no Ensino a Distância (EaD): Com a pandemia, houve uma migração massiva para o ensino remoto, o que exigiu investimentos significativos das instituições de ensino. Essa transição também trouxe uma maior oferta de cursos, gerando concorrência intensa e pressionando os preços das mensalidades.
- Regulamentação mais rígida: A regulação do setor educacional tem se tornado mais complexa, com normas que impactam diretamente a operação das empresas, como exigências sobre a proporção de professores por alunos, que elevam os custos operacionais.
- Inadimplência e captação de alunos: A crise econômica afetou a capacidade de pagamento de muitas famílias, resultando em alta inadimplência e dificuldade na captação e manutenção de alunos. Esse cenário gerou custos adicionais com marketing e reestruturação operacional.
- Juros altos e impacto no custo de capital: O ambiente de juros elevados no Brasil aumentou o custo do capital para as empresas, que precisam de financiamentos para expandir suas operações e modernizar suas estruturas. Com o crédito mais caro, a rentabilidade das companhias diminuiu.
- Resultados Financeiros Fracos: Muitas das empresas de educação enfrentaram resultados financeiros abaixo das expectativas, refletindo o impacto dos desafios setoriais e macroeconômicos, o que pressionou ainda mais o preço das ações.
Quais as principais empresas de educação cotadas na bolsa de valores do Brasil?
Entre as principais empresas de educação cotadas na Bolsa de Valores brasileira, destacam-se aquelas que possuem uma grande base de alunos e estão entre as líderes do setor. Conheça as maiores empresas de educação do mercado:
- Cogna Educação (COGN3): Uma das maiores empresas de educação do mundo, com uma vasta rede de faculdades, escolas e cursos preparatórios. Cogna inclui marcas conhecidas como Kroton, Anhanguera e Pitágoras.
- YDUQS Participações (YDUQ3): Controladora da Estácio e outras instituições de ensino superior, a YDUQS é uma das principais empresas de educação privada do Brasil, com foco em cursos de graduação e pós-graduação.
- Ser Educacional (SEER3): Empresa focada na região Nordeste, que também tem forte atuação em outras regiões do Brasil. Oferece cursos presenciais e à distância em diversas áreas do conhecimento.
- Anima Holding (ANIM3): Controla grandes instituições como Universidade Anhembi Morumbi, São Judas e outras, sendo uma das líderes no setor de ensino superior no Brasil.
- Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3): Possui uma ampla rede de instituições, incluindo centros universitários e faculdades, com forte presença em educação à distância.
Essas empresas são as principais representantes do setor educacional na bolsa brasileira e possuem um impacto significativo no mercado financeiro.
Quais as empresas de educação com maiores quedas?
As ações das empresas de educação caíram consideravelmente nos últimos anos, com algumas delas sofrendo perdas mais acentuadas. Abaixo, destacamos as companhias que registraram as maiores desvalorizações:
- Cogna Educação (COGN3): Uma das maiores empresas de educação globalmente, com uma extensa rede de faculdades, escolas e cursos preparatórios. A Cogna abrange marcas conhecidas, como Kroton, Anhanguera e Pitágoras.
- YDUQS Participações (YDUQ3): Controladora da Estácio e de outras instituições de ensino superior, a YDUQS se destaca como uma das principais empresas de educação privada no Brasil, focando principalmente em cursos de graduação e pós-graduação.
- Ser Educacional (SEER3): Com foco inicial na região Nordeste, a Ser Educacional também tem uma presença expressiva em outras regiões do país. A empresa oferece cursos presenciais e à distância em diversas áreas do conhecimento.
- Ânima Holding (ANIM3): Controla instituições renomadas, como Universidade Anhembi Morumbi e São Judas, sendo uma das líderes no setor de ensino superior brasileiro.
- Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3): Possui uma vasta rede de centros universitários e faculdades, com forte atuação em educação à distância, expandindo sua presença no mercado educacional.
Essas quedas refletem as dificuldades setoriais e macroeconômicas enfrentadas pelas empresas de educação, que têm encontrado obstáculos para ajustar seus modelos de negócios ao novo cenário.
Análise dos indicadores das empresas de educação
Para entender o desempenho financeiro das empresas de educação, é essencial analisar seus principais indicadores. Esses números fornecem uma visão clara sobre a saúde financeira das companhias e suas perspectivas futuras.
1 Cogna Educação (COGN3)
- Lucro Líquido: A Cogna apresentou prejuízos consecutivos desde o ano de 2020, com resultados abaixo das expectativas do mercado.
- EBITDA: O EBITDA da Cogna mostra sinais de recuperação, mas continua longe dos níveis obtidos antes de 2020.
- P/VP: O indicador de Preço sobre Valor Patrimonial está em 0,23, sugerindo que a empresa está sendo negociada abaixo do seu valor contábil.
- P/L: O Preço sobre Lucro é negativo, – 5,08, refletindo os prejuízos contínuos.
- ROE: O Retorno sobre o Patrimônio (ROE) é negativo, -4,44%, demonstrando a dificuldade da empresa em gerar retorno sobre os investimentos dos acionistas.
2 YDUQS Participações (YDUQ3)
- Lucro Líquido: Apesar dos desafios, a YDUQS conseguiu manter lucros, embora menores que nos anos anteriores, apresentando prejuízo apenas no ano de 2022.
- EBITDA: O EBITDA é sólido, apresentando uma leve alta nos últimos anos.
- P/VP: O indicador está próximo de 1, o que mostra que o mercado ainda vê valor na empresa.
- P/L: O Preço sobre Lucro é moderado, 23,31, estando próximo da média de P/L apresentada pela empresa nos últimos 10 anos.
- ROE: O ROE é positivo, 4,66%, mas apresenta uma tendência de queda, refletindo a necessidade de melhorias operacionais.
3 Ser Educacional (SEER3)
- Lucro Líquido: A Ser Educacional apresentou prejuízo nos anos de 2022 e 2023, sendo que no ano de 2023 o prejuízo reduziu em comparação com o ano anterior, indicando uma melhora no desempenho da empresa. No ano de 2024, até o momento, a empresa reporta um lucro de 282 milhões, valor ainda abaixo dos obtidos antes de 2022, mas que corrobora com a ideia de melhora.
- Dívida Líquida: A dívida está sob controle, mas a empresa precisa continuar investindo para competir no setor.
- EBITDA: O EBITDA é satisfatório, está em linha com os valores observados antes de 2022. O ano de 2022 definitivamente não foi fácil para a SEER3, o EBITDA desse ano foi cerca de 2,5x menor do que o observado nos outros anos.
- P/VP: O indicador de Preço sobre Valor Patrimonial está em 0,67, sugerindo que a empresa está sendo negociada abaixo do seu valor contábil.
- P/L: O Preço sobre Lucro está muito elevado, 2.960, o que pode indicar que os investidores estão pagando alto pelo lucro da empresa. O P/L pode reduzir caso o aumento do lucro da empresa persista.
- ROE: O ROE é positivo, 0,02%, ainda que ínfimo, é o primeiro valor positivo nos últimos dois anos.
4 Anima Holding (ANIM3)
- Lucro Líquido: A Anima teve uma performance mista, com períodos de lucros e prejuízos, no entanto, os prejuízos foram muito mais acentuados que os lucros.
- EBITDA: O EBITDA apresenta uma acentuada alta nos últimos anos, com destaque para a diferença entre os anos de 2020 e 2021. No ano de 2020, o EBITDA foi de 252,20 milhões, saltando para 704,06 milhões em 2021. Nos últimos 12 meses o EBITDA foi de 1,26 bilhão.
- P/VP: O indicador de Preço sobre Valor Patrimonial está em 0,56, sugerindo que a empresa está sendo negociada abaixo do seu valor contábil.
- P/L: O Preço sobre Lucro é negativo, – 13,55, refletindo os prejuízos nos últimos 12 meses.
- ROE: O Retorno sobre o Patrimônio (ROE) também é negativo, -4,13%.
5 Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3)
- Lucro Líquido: A Cruzeiro do Sul estreou no bolsa de valores em 2020. Em 2020, foi o único ano, pós-IPO, em que a empresa apresentou prejuízos.
- EBITDA: O EBITDA apresentou uma considerável alta nos últimos anos.
- P/VP: O indicador está próximo de 1, o que mostra que o mercado ainda vê valor na empresa.
- P/L: O Preço sobre Lucro é de 10,32, o melhor valor entre as empresas do setor, no entanto, não se pode esquecer que se trata de uma empresa com pouco histórico na bolsa.
- ROE: O Retorno sobre o Patrimônio (ROE) também é negativo, 8,94%, também o melhor valor dentre as empresas do setor.
O que esperar para o futuro das ações de educação?
Apesar dos desafios atuais, há espaço para otimismo no longo prazo. Analistas acreditam que, com a estabilização do cenário macroeconômico e a adaptação das empresas às novas realidades do mercado, as companhias de educação podem começar a mostrar sinais de recuperação.
Perspectivas positivas:
- Melhoria na captação de alunos: A estabilização econômica pode levar a um aumento na demanda por cursos de graduação e pós-graduação.
- Expansão do ensino a distância: Empresas que conseguirem se destacar no EaD têm potencial de capturar uma fatia maior do mercado.
- Redução de custos: A implementação de tecnologias e a reestruturação operacional podem ajudar a reduzir custos e aumentar as margens.
Investir em ações de empresas de educação requer uma análise cuidadosa dos riscos e oportunidades. Embora o setor esteja enfrentando uma fase desafiadora, as empresas têm adotado medidas para melhorar suas operações e buscar a recuperação. Para os investidores de longo prazo, pode haver oportunidades interessantes, desde que as companhias consigam se adaptar e se fortalecer no novo cenário.
A diversificação do portfólio e a análise constante dos indicadores financeiros são fundamentais para quem deseja investir nesse setor.
*Disclaimer: este artigo é a título informativo, não sendo, portanto, uma recomendação de compra/venda.